Formato popular no Reino Unido ou nos Estados Unidos, o teatro imersivo convida a uma experiência distinta e baseada nos sentidos, esses muito úteis à perceção e compreensão da história. O público entra numa viagem no tempo em que nada se pode alterar e, portanto, com nada ou ninguém se pode interagir. No entanto, está lá, vê, sente e toca. Uma experiência muito rica, especialmente interessante para pessoas que gostem de novos conceitos.
«E Morreram Felizes Para Sempre» acontece no pavilhão 30 do antigo Hospital Psiquiátrico de Júlio de Matos, onde dois andares do edifício reservam surpresas e sensações por conhecer. A peça cruza a romântica e trágica história de D. Pedro e Inês de Castro com a descoberta da Leucotomia pelo médico português Egas Moniz, num registo onde a loucura impera e a ciência assusta.
O enredo
Tudo começa no baile de comemoração do prémio internacional que o diretor do hospital, Dr. M, recebeu, corria o ano de 1949. Durante a celebração, o médico Pedro e a sua esposa Constança assistem à chegada destacada da nova enfermeira espanhola, Inês, e rapidamente o médico perde-se na luz emanada pela jovem. Constança, que se apercebe da situação, interrompe o momento com uma discussão ciumenta a que todos no salão assistem, pedindo ao Dr. M para que afaste Inês do seu marido. É aqui que tudo começa, alguns atores abandonam a sala e o público tem que decidir, por sua conta, quem pretende seguir e ao que quer assistir.
A peça assume uma dinâmica muito diferente daquilo a que estamos habituados, os atores circulam pelos dois andares do edifício e o público é convidado a segui-los, escolhendo que caminho e personagem deseja seguir. Não existe nenhum diálogo ao longo da performance, que se repete a meio da sessão para que possa ver o que ainda não viu e juntar as peças necessárias à compreensão do puzzle.
É, de facto, imersivo, potente e fascinante. Impressiona a capacidade de concentração dos atores, que interagem fisicamente com o público (pode ser puxado, de repente, para uma sala e participar numa cena one to one com o ator), assim como surpreendem as reações de quem assiste: primeiro, pouco à vontade e confuso com o que se passa; depois, completamente mergulhado na narrativa e atento a cada pormenor; e, por fim, rendido ao encanto de poder explorar o espaço e os personagens.
Ao fim de 100 minutos a correr de um lado para o outro atrás deste ou daquele ator, de subir e descer as escadas vezes sem conta, as dores nas pernas começam a sentir-se, aliviadas pelo orgásmico prazer intelectual que E Morreram Felizes Para Sempre provoca. No final haverá muito para assimilar, podendo ser útil um copo de Drambuie no bar que serve à história.
A peça pode ser vista até 17 de outubro, no Hospital Júlio de Matos, mas convém que reserve os bilhetes com antecedência porque as sessões estão a esgotar rapidamente. A entrada normal custa 35 euros e para constar na lista do Dr. M, que dá acesso a pistas e uma welcome drink, terá que desembolsar 60 euros. Da nossa parte fica a garantia de uma experiência bem vivida e que ficará, certamente, com vontade de regressar para mais.
Data: até 17 de outubro | Local: Pav. 30 do Hospital Júlio de Matos, Alvalade, Lisboa | Preço: 35 a 60 euros