O restaurante com assinatura do chef Hugo Brito, em Alfama, funciona em redor de apenas um menu de degustação que muda regularmente. Prático, saboroso e simples, não fosse a falta de ovos na despensa.
Mesmo no coração de Alfama, não muito longe da Mesa de Frades, encontra-se o Boi-Cavalo, espaço gastronómico alternativo à responsabilidade do chef Hugo Brito. O homem à frente da cozinha – que já foi dividida com o chef Pedro Duarte – começou em Sociologia, passou para as Artes Plásticas e terminou nos tachos. Foi sous chef no 100 Maneiras de Ljubomir Stanisic até abril de 2014, altura em que se lançou neste projeto.
Em zona de espaços pequenos por excelência, o restaurante funciona com uma sala pequena de olhos postos na cozinha, quebrando a barreira entre o cliente e o chef. A decoração sóbria e desprovida carateriza o conceito e desvia atenções para o que realmente importa: a carta.
A reeducação do estômago faz-se com a chegada do pato em carne tenra, equilibrado com a junção das amêndoas e da folha de salvia. Uma proposta que surpreende pela positiva.
A ementa rege-se por um único menu de degustação, composto por cinco pratos, que vai sendo alterado com alguma regularidade. À data da visita da Travel&Taste, as opções contemplavam pratos de peixe (bacalhau e carapau) e carne (pato e enchidos).
O jantar começou com uma entrada à base de maionese com pele de bacalhau desidratado e pimenta, um começo de refeição suave que destacou o sabor do peixe sem sobreposições. Ainda nos domínios do mar, chega-nos ao prato um carapau fumado que agradavelmente preencheu o paladar, regado com molho feito a partir das espinhas, azeite e cinza de alecrim.
A reeducação do estômago faz-se com a chegada do pato em carne tenra, equilibrado com a junção das amêndoas e da folha de salvia. Uma proposta que surpreende pela positiva. A terminar, surge a cove-flor com farinheira e fish sauce (ou, em bom português, molho de peixe) que acaba por passar despercebida – no paladar deste repórter – depois da surpresa do pato.
O jantar teria corrido sem problemas, não fosse a desafinação de alguns pormenores importantes. É o caso do serviço gentil, que falhou logo no início da refeição quando um dos membros do grupo que me acompanhava informou a empregada da sua “condição” de vegetariana e, por isso mesmo, pediu uma alternativa. Este é, como bem se sabe, o problema frequente dos adeptos deste estilo de vida, mas que facilmente é resolvido com uma simples omelete ou salada – embora não seja, claro, o ideal. Depois de um exercício gesticular do chef, pouco agradado com a situação, lá fomos informados que apenas seria possível consumir o menu de degustação ou, neste caso, os acompanhamentos.
Se não estivéssemos a falar de um conjunto de propostas cujos acompanhamentos eram amêndoas, cove-flor ou folhas de salvia, tudo estava bem. E, para espanto do grupo, foi exatamente isso que aconteceu. Os pratos “à vegetariano” vinham “preenchidos” com meia dúzia de amêndoas ou o que fosse aproveitável de cada proposta. É, sem dúvida, algo a melhorar e que se pode resolver com uma caixa de ovos na despensa.
Vale a pena recordar, no entanto, que as propostas inusitadas que nos chegaram à mesa surpreenderam e não desiludiram.
Boi-Cavalo | Morada: Rua do Vigário 70B, Lisboa | + info