Na comunidade gastronómica nacional e internacional, hoje era um dos dias mais esperados do ano. A atribuição de estrelas Michelin aos restaurantes ibéricos foi há momentos anunciada na pequena cidade de Girona, perto de Barcelona.
A expectativa é sempre muita mas, este ano, a curiosidade cresceu mais ainda quando, há cerca de um mês, Ángel Pardo, responsável de comunicação do guia para Espanha e Portugal, anunciou que as cozinhas lusitanas seriam contempladas com o dobro das estrelas face à edição anterior. De 17 para 34 seria a duplicação de estrelas prevista mas, ainda assim, sem qualquer restaurante a receber a distinção máxima de três.
Feitas as contas, depois do anúncio dos resultados, a generosidade do júri não foi tanta quanto o antecipado mas satisfaz as expectativas dos chefs que esperavam este ano subir ao palco dos mais estrelados do mundo.
Assim, a partir de hoje, Portugal conta com 21 restaurantes com estrela Michelin, num total de 26 estrelas atribuídas. Há agora cinco cozinhas nacionais com duas estrelas – The Yeatman e Il Gallo D’Oro juntam-se a Belcanto, Vila Joya e Ocean -, e 16 com uma estrela.
Os restaurantes que hoje recebem a sua primeira estrela são: Alma, de Henrique Sá Pessoa (Lisboa), LOCO, de Alexandre Silva (Lisboa), Lab by Sergi Arola, de Sergi Arola (Sintra), L’And, de Miguel Laffan (Montemor-o-Novo), William, de Joachim Koerper e Luís Pestana (Funchal), Antiqvvm, de Vítor Matos (Porto) e Casa de Chá da Boa Nova, de Rui Paula (Leça da Palmeira).
As sete novas estrelas juntam-se aos nove espaços que já detinham uma distinção e que mantêm na edição de 2017. São eles: Bonbon, de Rui Silvestre, São Gabriel, de Leonel Pereira, Henrique Leis, de Henrique Leis, Eleven, de Joachim Koerper, Fortaleza do Guincho, de Miguel Rocha Vieira, Feitoria, de João Rodrigues, Willie’s, Willies, Pedro Lemos, de Pedro Lemos, e Largo do Paço, de André Silva.
Melhor resultado do que na edição anterior mas ainda muito aquém da vizinha Espanha o que, para alguns, significa que continua a valorizar-se muito pouco o esforço que por cá se faz na crescente apresentação de boas propostas de fine dinning.
A estrelar desde 1900
O mais famoso Guia de Restaurantes do mundo nasceu há 116 anos pelas mãos de dois irmãos – Edouard e André Michelin -, os conhecidos fundadores da fábrica de pneus com o mesmo nome.
Apesar da sua idade avançada, o guia apenas distinguiu restaurantes nacionais em 1974, já depois da revolução dos cravos. Na época, os contemplados foram o Aviz e o Michel (Lisboa), o Pipas (Cascais) e o Portucalense (Porto). Dos quatro, apenas um (Michel) já fechou.
As estrelas atribuídas há 42 anos certamente distinguiam a sopa rica de peixe e o bife Chateaubriand, especialidades do Aviz, o peixe e o fresquíssimo marisco do Pipas, ou o bife na frigideira e a vista sobre a cidade do Portucalense. Já no Michel, a aventura gastronómica ficava, muitas vezes, abafada pela excentricidade do chef, que um dia se vestiu de sheik árabe para ir jantar ao concorrente Tavares Rico.
Tempos longínquos, conceitos gastronómicos muito distintos dos atuais e, seguramente, menos exigentes e stressantes para quem comandava as cozinhas.