Um Mar D’Estórias para contar, com sabores a acompanhar

Esta é uma viagem pelo Portugal cultural, tradicional, mas também gastronómico, que se faz através dos diferentes espaços do Mar D’Estórias. Há uma loja, uma galeria, um espaço para livros e música, e um cantinho para provar iguarias nacionais.

​Já foi igreja, adega, armazém de vinhos e quartel de bombeiros. É, por isso, muito fácil de entender porque este edifício, originário do século XV, bem no centro da cidade algarvia de Lagos, alberga uma enorme quantidade de História, mas também de estórias, contadas entre várias gerações de habitantes locais.

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​É também muito simples de compreender a escolha do local para acolher um projeto que visa divulgar e valorizar tudo o que é português, em geral, e algarvio, em particular, e que resulta do encontro de dois sonhos. Luís Ledo, CEO, com um percurso profissional na gestão de resorts e de imobiliário, foi sempre um apaixonado por tudo quanto é português. Quiseram as circunstâncias de vida que se cruzasse com Célia Real, amante do trabalho manual, do artesanato e das suas origens. Em conjunto criaram este Mar D’Estórias, de tradições, sabores, aromas, texturas e experiências de um Portugal único. A visita é obrigatória.

Viagem de norte a sul

Do lado de fora nada faz prever o que encontramos depois de passar pelas portas envidraçadas que nos dão as boas vindas. A exploração do espaço começa pela loja, no piso térreo, onde encontramos pedaços de Portugal, repartidos entre iguarias, licores, vinhos (que podem ser degustados no local), e artesanato variado. É difícil resistir a espreitar expositores e prateleiras, tal é o apelo das cores e formas expostas.

Ao fundo, no canto, um outro espaço desperta a curiosidade. Lá dentro, a garrafeira, com propostas de norte a sul do país, enfeitam as paredes que outrora albergaram um confessionário. Sim, leu bem. Recanto dos tempos em que a Igreja do Compromisso Marítimo de Lagos funcionava como local de culto religioso. Ali repousam agora os néctares, muitos deles de pequenos e pouco conhecidos produtores.

Foto: D.R.

​Para explorar há ainda o Espaço Casa, que alberga acessórios de decoração, uma galeria de arte, e uma zona de leitura e venda de livros e música. O Café/Bistro reserva a grande surpresa que faz do Mar D’Estórias um inevitável ponto de passagem.

A melhor sangria do ano

Depois de uma visita às raízes do país, nas suas diferentes vertentes, e já com o estômago a dar horas, sentámo-nos na zona do Café/Bistro para degustar algumas das propostas da chef Megan Melling, uma americana de 26 anos, que chegou a Portugal com apenas três, e que cresceu por terras algarvias.

Não sendo uma algarvia ‘de gema’, Megan conhece bem os produtos endógenos do sul e com eles compõe um menu a que podemos chamar tradicional, mas com um toque de inovação e surpresa. E que surpresa!

Pela mesa passaram iguarias como o pão caseiro de alfarroba e figo, que tão saboroso fica molhado no azeite Monterosa com flor de sal de Castro Marim, ideal para enganar a fome e para preparar o apetite para o que se segue. No couvert não faltou a cenoura à algarvia, marinada em azeite e alho.

Carpaccio de Muxama (atum seco fatiado). Foto: D.R.

Recomendamos, sem reservas, que experimente o carpaccio de muxama (atum seco e fatiado finíssimo), com agrião, amêndoa e azeite. Uma entrada diferente, a divulgar um produto regional algarvio ainda pouco conhecido. Não deixe ainda de provar a Tábua de Conservas, que inclui o atum picante da Correctora – um petisco que vale cada bocadinho guloso que nos entra na boca -, o patê de cavala e mais um cheirinho da fantástica muxama. Ainda nos petiscos, a saladinha de polvo não desilude e vai muito bem com as tostas caseiras que lhe fazem companhia no prato.

Já com as primeiras impressões a superar todas as expectativas, passámos aos pratos (a)típicos, como lhe chama a chef. Provámos o bife à portuguesa, com molho de mostarda e alho, ovo a cavalo e batata frita. Um clássico que se destaca pelo corretíssimo ponto da carne, pelo molho guloso e pelas saborosas batatas caseiras.

Arriscámos ainda no atum braseado (também no ponto certo), que vem com um puré de cenoura muito bem confecionado e nada enjoativo, muxama (a tal!) e um picadinho de tomate, figo e cebola, com a acidez do primeiro em perfeito equilíbrio com a fruta.

Berbigão à Bulhão Pato. Foto: D.R.

Para fechar em beleza, a chef reservou-nos o ex-libris da casa: a alcagoita de Aljezur o que, trocado por miúdos, são trufas de amendoim, acompanhadas por gelado de banana da Madeira e bolacha Maria. É difícil descrever o prazer proporcionado por esta original mistura, mas recomendamos que não perca a experiência. Contudo, se não aprecia este fruto seco, esqueça, e opte antes pela Mousse de Chocolate e azeite com flor de sal.

Para beber tínhamos à escolha uma ampla seleção de vinhos, alguns propostos na carta para harmonização com cada prato. No entanto, o calor falou mais alto e fomos para a sangria branca com frutos vermelhos, que recomendamos vivamente. Foi mais uma surpresa e, sem dúvida, a melhor sangria do ano.


Mar D’Estórias | Morada: Rua Silva Lopes 30, Lagos + info