O mercado das cervejas artesanais já é uma realidade em Portugal. O número de produtores e marcas está a crescer e um segmento muito caraterístico de consumidores tem vindo a procurar a oferta, apesar de o consumo de cerveja artesanal ainda só representar uns inexpressivos 0.03% do consumo total desta bebida alcoólica. A Travel&Taste conta-lhe as histórias de três marcas… para consumir com moderação.
Cerveja Oeste
Pedro Poêjo, licenciado em Engenharia Biotecnológica pela Universidade Lusófona e mestre em Tecnologia Alimentar/Qualidade pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNL, sempre gostou de cerveja e é hoje o empresário fundador da Easybrew, que comercializa a Cerveja Oeste. Em entrevista, vai direto ao assunto. “O mercado da cerveja artesanal é muito dinâmico e díspar, em que coabitam marcas com diferentes objetivos: há marcas que tentam alcançar uma expressão nacional, ao passo que outras vivem exclusivamente das vendas resultantes da presença em feiras e mercados”.
Por falar em mercado, num contexto em que existem duas principais marcas de cerveja nacionais – aquelas que patrocinam eventos, colocam campanhas nas ruas e apelam à emoção dos portugueses –, a tarefa de os produtores artesanais se afirmarem não é fácil. Pedro Poêjo dá uma ideia: “É importante que a marca esteja identificada com a região onde é produzida, podendo, por exemplo, haver uma busca pela associação da cerveja com matérias-primas ou produtos regionais”.
O mestre cervejeiro acredita que os consumidores procuram “essencialmente cervejas diferentes e variadas; e quando bebem uma cerveja artesanal esperam que esse momento constitua uma nova experiência, resultando daí a grande magia deste mercado: o surgimento constante de novas marcas”.
A Cerveja Oeste, disponível nas variedades de trigo e aveia, está à venda no site da marca e noutros pontos de venda na área de Lisboa e na região oeste do país.
Cerveja Amphora
A Cerveja Amphora nasceu pelas mãos de João Palmeira, jovem empreendedor e autor da marca que tem uma forte ligação à história de Braga, de onde é natural. Contornando as dificuldades profissionais que lhe bateram à porta em 2013, começou a produzir cerveja artesanal de três variedades, com os nomes Bracara (Cream Ale) – em alusão à cidade romana Bracara Augusta, Braga atual –, Avgvsta (Sweet Stout) e Rvber (String Scotch Ale).
O empreendedor recorda os desafios do mercado quando começou a produzir e comercializar a bebida. “Em 2013 fazia cervejas muito consensuais, pareceu-me ser esse o feedback do público. Ainda havia pouca cultura cervejeira, com as pessoas a procurar no artesanal os sabores que conheciam no industrial. Agora já não é assim, as pessoas para além de terem acesso aos produtos estrangeiros, já “puxam” por nós, portugueses, para que possamos também ousar mais nos sabores”.
Na sua opinião, a cerveja artesanal seduz os consumidores pela diferença de estilos, sabores e intensidades em relação às cervejas industriais, produzidas “como algo simples e fácil de beber para agarrar quotas de mercado”. Ainda que o consumo desta bebida feita artesanalmente só represente 0.03% do consumo total de cerveja no país, João Palmeira não tem dúvidas de que o produto se vai tornar o mais abrangente possível, sobretudo depois de perder a conotação do conceito gourmet, tão usado e banalizado hoje em dia.
Cerveja Mediaevalis
A Cerveja Mediaevalis assume-se como “a melhor cerveja artesanal aveirense”. Alexandre Carvalheira, Luís Santos e João Carvalheira, amigos e amantes da cerveja, alinharam em igual espírito empreendedor e criaram a PME Heróis e Conquistadores, Lda, com vista a comercializar aquela a que chamaram “Cerveja do Guerreiro”.
Luís Santos, um dos fundadores da marca, completa o retrato do mercado português de cerveja artesanal. “Ainda há muitas pessoas que não sabem o que é a cerveja artesanal e a diferença que tem em relação às outras cervejas. Poderá demorar algum tempo até que adquiram esses conhecimentos. Mesmo assim, neste momento o número de produtores é suficiente para o mercado”, diz em entrevista.
A procura está a crescer, o que se traduz no consumo de bebidas de maior qualidade. Os produtores utilizam receitas artesanais da forma correta e não olham a despesas na hora de comprar as matérias-primas, nomeadamente os cereais de cevada e trigo que são todos maltados, ao contrário do que acontece no fabrico das cervejas industriais. O responsável da Mediaevalis desmistifica o processo: “A cerveja não é artesanal por ser feita à mão – as máquinas são sempre utilizadas. A questão é como são utilizadas as receitas, que respeitam os tempos de fermentação corretos e não utilizam químicos para acelerar o processo”.
A Cerveja Mediaevalis, fabricada a pensar nos “guerreiros” e destinada a todo o tipo de consumidores, experientes e curiosos, está à venda em bares, pubs, restaurantes e supermercados da zona de Aveiro, pode ser encomendada online e ainda provada em festivais gastronómicos.
Os produtores das cervejas Oeste, Amphora e Mediaevalis são unânimes em dizer que o mercado da cerveja artesanal portuguesa apresenta uma clara tendência de crescimento. O segmento de apreciadores poderá continuar a ser um nicho de mercado – disposto a pagar mais pela qualidade que procura –, mas uma coisa é certa: parece que a cerveja artesanal veio para ficar.