“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, cantava há quase meio século José Mário Branco, frase que ficaria para sempre na memória coletiva portuguesa. No que diz respeito ao setor do vinho, o respeito pela tradição continua a ser um dos grandes valores engarrafados, mas nem por isso significa que os produtores nacionais não se adaptem às novas exigências do mercado. Foi exatamente isso que fez a irreverente Quinta do Pôpa, de Tabuaço, que decidiu abraçar o conceito vegan friendly com a certificação dos vinhos do seu portefólio.

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Os irmãos Stéphane e Vanessa Ferreira – netos de Francisco Ferreira, conhecido como Pôpa e que viria a emprestar o nome ao produtor duriense – quiseram dar mais um passo em direção ao futuro embarcando num processo de certificação da BevVeg!, a entidade que atesta o cumprimento dos requisitos para que uma bebida possa ostentar o selo de garantia. O símbolo BevVeg Vegan vai passar a constar dos rótulos da Quinta do Pôpa já a partir de maio.

Este caminho faz-se através da eliminação da utilização de produtos de origem animal em todo o processo de vinificação, adotando “uma forma de produção mais consciente”. De acordo com a empresa, esta medida permitirá chegar a “um maior número de consumidores, porque não exclui os que se regem por uma conduta vegana”, como aliás acontece na maioria dos vinhos disponíveis no mercado.

O que impede um vinho de ser vegan?

Para muitos consumidores, a ideia de que os vinhos precisam de recorrer a produtos de origem animal durante a sua produção pode ser estranha, mas é verdade. Entre as várias etapas na criação vínica, está o processo de clarificação, que, no fundo, tem como objetivo filtrar o líquido – isto é feito através da separação do mosto das partículas sólidas e, por norma, com recurso à adição de clara de ovo, cola de peixe ou gelatinas animais.

Assim, o que empresas como a Quinta do Pôpa ou a alentejana Ribafreixo optam por fazer é utilizar elementos de origem vegetal ou mineral, em substituição do método clássico. De acordo com o Centro Vegetariano, as “alternativas não-animais incluem pedra calcária, caulino e ‘kieslguhr’ (argilas), caseína de plantas, gel de sílica e placas vegetais”.

Desta forma, consumidores que optem por um estilo de vida marcadamente contra o consumo de qualquer produto de origem animal não colocam em causa as suas crenças – alimentares, filosóficas e políticas – quando bebem vinhos certificados como vegan friendly.

No caso da BevVeg!, considerada uma das principais empresas internacionais certificadoras deste processo, os produtores de bebidas que cumpram os requisitos podem depois utilizar o selo BevVeg Vegan Trademark Symbol nas suas embalagens e são também incluídos num diretório mundial que pode ser consultado por todos. A plataforma conta, atualmente, com mais de um milhão de bebidas.