Sabe quanto tempo de vida tem, em média, um smartphone? De acordo com vários estudos e especialistas do setor, os consumidores utilizam o mesmo dispositivo durante cerca de dois anos antes de o trocar por um novo. Incentivando a mudança de hábitos, a Fairphone criou um smartphone sustentável que quer revolucionar o mundo e tudo a partir das mãos dos consumidores – a aposta faz-se na ética, na reciclagem e na durabilidade do aparelho.

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A importância para o planeta

Todos os anos, as marcas lançam novos modelos que prometem avanços tecnológicos e pequenas revoluções estéticas que os tornam mais desejáveis do que os seus antecessores. Além disso, a vontade de comprar um novo telemóvel inteligente é motivada por diversos fatores, como a “obsolescência programada” – uma espécie de prazo de validade pensado pelos fabricantes para incentivar os utilizadores a novas compras -, mas também o marketing em torno de novas funcionalidades e, claro, a veia consumista que, de uma forma geral, os humanos não dispensam.

No entanto, a vontade de comprar o último modelo tem um forte impacto no ambiente pelas emissões de CO2 a que está associado – desde logo na sua produção, momento em que se concentram cerca de 80% das emissões devido aos minérios, extraídos com recurso a combustíveis fósseis, que contém. E são muitos. Debaixo do capô, os circuitos e componentes utilizam ouro, prata, cobalto, estanho e cobre, entre outros, que não são, na esmagadora maioria das vezes, reutilizados.

Mas será que o impacto é assim tão significativo nas compras de smartphones que todos fazemos? A resposta é, sem dúvida, sim. Segundo um artigo do Programa Ambiental da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o tema, “a indústria de eletrónicos gera até 41 milhões de toneladas de lixo eletrónico por ano”, sendo que menos de 16% desse material é reciclado. Para se ter uma ideia do volume anual de novos dispositivos colocados no mercado global, só as três principais marcas – Samsung, Huawei e Apple – foram responsáveis, em 2019, pela produção de 731,2 milhões de unidades de smartphones.

Além da reciclagem e reaproveitamento destes dispositivos, a ONU defende ser necessário que os fabricantes comecem a construir smartphones com um tempo de vida útil mais longo, evitando as constantes substituições e consequente dano ao planeta.

Fairphone 3

O smartphone permite reparar, substituir e atualizar seis componentes, como as câmaras, bateria, altifalante ou ecrã, entre outros.

O contributo holandês

Foi a pensar no desperdício que nasceu a Fairphone, em 2013, uma empresa de Amesterdão. O objetivo passava por criar uma organização com propósito que ajudasse os utilizadores de smartphones a ter uma opção mais sustentável, assente em comércio justo e práticas responsáveis. “Projetamos durabilidade, reparo fácil e atualizações modulares”, defende, explicando que “quanto mais tempo mantiver o seu telemóvel, menor será a sua pegada ambiental”.

O resultado chama-se Fairphone 3, um smartphone que oferece tudo o que o público procura – uma câmara de qualidade, um processador veloz e as funcionalidades que todos usam – com uma diferença: utiliza plásticos reciclados, cobre e minerais extraídos de zonas livres de conflitos, incluindo ouro de comércio legal. A empresa, que atua em parceria com fornecedores que promovem melhores condições de trabalho nas fábricas, foi, por tudo isto, reconhecida pela Greenpeace, em 2017, como “o fabricante de produtos eletrónicos mais verde do mundo”.

O Guia para Eletrónicos mais Verdes 2017, publicado pela associação ambiental, aborda os temas relacionados com o impacto da produção de eletrónica no planeta, sugere alternativas e elabora uma lista que classifica as diferentes marcas de dispositivos eletrónicos com base no seu contributo para a pegada de carbono. As notas atribuídas têm em conta a utilização de energia, recursos e químicos, variando entre A (a melhor) e F (a pior).

A Fairphone surge em primeiro lugar, com classificação geral B (B na energia, A- nos recursos e B- nos químicos). Utilizando os exemplos já mencionados das três marcas mais vendidas no mundo, a Apple ocupa a segunda posição com nota B-, enquanto que a Huawei recebe uma classificação D e a Samsung conquista um D- (veja, na tabela abaixo, o ranking completo e detalhado). Na lista da Greenpeace, a Xiaomi ocupa o último lugar com nota F.

A marca holandesa conquista a melhor classificação da tabela por construir os seus dispositivos com materiais reciclados e provenientes de comércio justo, mas também pela forma como os desenha. Uma particularidade do Fairphone 3 é ser modular, o que permite que os consumidores possam ir substituindo e atualizando componentes à medida que é necessário, ao invés de simplesmente trocarem o smartphone por um novo. Além disso, a empresa garante atualizações de software ao longo do tempo e vende os dispositivos sem carregador, cabo USB e auscultadores – a caixa inclui, além do aparelho, uma mini chave de fendas para ajudar na reparação, substituição ou atualização de componentes; uma capa protetora e um guia de utilização. A ideia é que possa reutilizar os carregadores, cabos e auscultadores que já tem em casa.

E o que oferece?

A terceira geração do Fairphone já está disponível em Portugal, através da NOS, e conta com tudo aquilo que um utilizador comum pede – sistema Android, cobertura 4G, ecrã de 5,7 polegadas Full HD, 4GB de RAM, 64GB de armazenamento (expansível com microSD) e duas câmaras, a frontal de 8MP e a traseira com 12MP. O preço está fixado em 449,99 euros.

Como diz a marca holandesa, a mudança está nas nossas mãos.