Passear entre Aveiro e Macinhata do Vouga é a experiência mais próxima de viajar no tempo até ao início do século XX, à boleia de uma locomotiva a vapor que conduz quatro carruagens datadas entre 1908 e 1931.
Passaram quase duas décadas desde a última viagem de um comboio a vapor na linha do Vouga, mas tudo mudou em dezembro com o regresso da locomotiva com quase 100 anos. Um sonho antigo da Câmara Municipal de Águeda, que há muito queria recuperar o património ferroviário da região e colocá-lo, de novo, ao serviço da população – desta vez, contudo, numa vertente turística. Abram alas, chegou o Comboio Histórico do Vouga.
Esta é, atualmente, a única linha de via estreita (designada por bitola métrica) a funcionar no país e também por isso representa uma oportunidade única para pôr a circular o imenso espólio esquecido nas oficinas de Sernada do Vouga. Depois de voltar à vida em 2017, com a realização de passeios turísticos a bordo de carruagens do início do século XX numa parceria entre a CP – Comboios de Portugal e o município, a procura pelos passeios a bordo do Vouguinha revelou-se tanta que foi necessário duplicar a oferta. Inicialmente, as viagens realizavam-se apenas aos sábados, tendo sido estendidas aos dois dias do fim de semana durante o verão de 2018.
Vale a pena assinalar, contudo, que as viagens de verão a bordo do Vouguinha são feitas com o auxílio de uma locomotiva alimentada a diesel e não a carvão, como a que agora compõe o Comboio Histórico a Vapor do Vouga.
O regresso do vapor
Durante o período inicial do programa especial da CP – que conta com apoio logístico da Câmara Municipal de Águeda no que diz respeito à animação a bordo -, os vagões de madeira, adornados com varandas em ferro vermelho, eram puxados por uma locomotiva dos anos 60, produzida em Espanha, e alimentada a diesel. No entanto, e impulsionado pelo crescente interesse de curiosos, foi, entretanto, recuperada a locomotiva E214.
A Mallet E214, alimentada por carvão, foi produzida pela Henschel & Sohn, em 1923, e enviada para Portugal como forma de indemnizar o país pela participação na I Guerra Mundial. É um exemplar como há poucos em território nacional, que depois de ter circulado, durante décadas, nas linhas do Corgo (entre a Régua e Chaves) e do Sabor (ligando Pocinho a Duas Igrejas) foi recuperada nas oficinas de Contumil, no Porto, em 2017.
O regresso da locomotiva a vapor aconteceu, finalmente, em dezembro com a realização de três viagens – duas comerciais, destinadas a todos aqueles que quisessem viajar no tempo; e uma exclusiva para funcionários da CP.
Um comboio sempre a crescer
O Comboio Histórico do Vouga é, todo ele, uma ode aos tempos áureos da ferrovia em Portugal. Além da estrela principal, a composição tem contado com três carruagens em madeira datadas de 1908, 1913 e 1925 no percurso que realiza, a velocidade de passeio, entre Aveiro e Macinhata do Vouga. Mas a família acaba de aumentar.
No final de fevereiro, à boleia das celebrações do Carnaval, a CP introduziu uma nova carruagem, construída em 1931 pela Officine Ferroviarie Meridionali SA, que se encontrava parada em Sernada do Vouga. A sua glória foi recuperada pelas oficinas de Contumil, engrossando, assim, a oferta do comboio histórico que passa a ter capacidade para 174 passageiros.
E porque à boa moda portuguesa há sempre espaço para mais um, a CP confirmou, em comunicado enviado às redações, que a “napolitana” de via estreita terá, no período de Páscoa, nova companhia. Trata-se de “outra carruagem histórica que foi construída nas Oficinas Gerais do Barreiro, em 1908, e que se encontra em recuperação”, explica a empresa.
O percurso a bordo do Comboio Histórico a Vapor do Vouga tem um custo de 30 euros para adultos e 16 euros para crianças.