A torre do Holiday Inn Porto Gaia sustenta-se em 22 andares, com vista para a Invicta e a Foz do Douro. Passámos lá a noite e fomos surpreendidos pelo restaurante Food&Friends.
Chegámos ao Holiday Inn Porto Gaia de mochila às costas e, estranhamente, não nos sentimos deslocados. Pode parecer uma observação sem sentido, e devia sê-lo, mas a verdade é que chegar a hotéis de quatro e cinco estrelas equipado com uma mochila pode dar azo a alguns olhares desconfiados. Não foi o caso. A genuína simpatia ao balcão da receção apela ao sorriso nos lábios e reconforta a alma para quem acaba de chegar à Invicta.
Olhamos em redor: um fluxo constante de pessoas a entrar e a sair decoram o recentemente renovado lobby, a paredes meias com o bar e restaurante do hotel. Rapidamente percebemos que na torre mais alta de Vila Nova de Gaia, a unidade hoteleira tem vários espaços dedicados a reuniões, eventos e congressos, justificando a quantidade de pessoas que por ali circulam.
Este foi, aliás, o foco do Holiday Inn durante algum tempo, mais direcionado ao cliente de negócios do que propriamente a famílias. No entanto, e dado o constante aumento do turismo no Porto, o hotel deixou de estar focado num tipo específico de cliente e tem, hoje, uma taxa de ocupação permanentemente elevada.
Ainda assim, esta maior abrangência de público não retira qualidades no que diz respeito às valências de hotel empresarial: a unidade tem dezenas de salas de reunião, com diferentes capacidades, salões versáteis capazes de receber um copo de água ou um congresso de matemáticos e quartos pensados para quem viaja em trabalho. Nestes quartos, pouco mais caros do que os standard (a partir de 120€), há uma cadeira executiva, uma máquina de café à disposição e todo o material necessário para engomar uma camisa.
Como de executivo temos pouco, o nosso quarto, quase a tocar nas nuvens, estava antes equipado com uma simples cafeteira e uma remodelação não lhe fazia mal. O melhor mesmo era a vista que os mais de vinte andares acima da terra permitiam: a foz do Douro e os contornos do Porto fazem as delícias de qualquer um, principalmente à noite.
Showcooking e um belo bife de pimenta
Os hotéis estão, desde há uns anos para cá, a travar uma luta para quebrar a barreira entre o restaurante da unidade e os clientes que não estão hospedados. Esta tem vindo a revelar-se uma tarefa complicada por vários motivos: por um lado, há ainda a ideia generalizada (e muitas vezes não tão errada assim) de que a comida nestes restaurantes não tem qualidade suficiente para os preços praticados e, por outro lado, porque os clientes não se sentem confortáveis a entrar num hotel apenas para ir almoçar ou jantar.
Numa tentativa de desconstruir este bicho-papão, decidimos arriscar e fomos, de garfo em punho, experimentar o Food&Friends, o restaurante do Holiday Inn. O espaço foi pensado para uma visita mais descontraída, aboliu uma parede divisória com o bar e criou, assim, maior liberdade de escolha e circulação. A carta do restaurante tanto pode ser servida naquela sala, como na área do bar, onde existem televisões e sofás.
O manjar iniciou-se com um conjunto simpático de entradas, construído com salada de atum e feijão, salada de bacalhau com grão, morcela com maçã e uns fantásticos ovos mexidos com alheira. Estas quatro pré-entradas, assim como todos os pratos frios, foram preparadas no balcão de showcooking estacionado a meio da sala, quebrando a barreira entre o cliente e a cozinha.
Aberto o apetite, escolhemos uma dose generosa de Polvo à Galega com pimentão e azeite virgem, acompanhado pelo espumante Terras do Demo. Se a refeição tinha tido um bom arranque, a segunda metade do jantar seria a responsável por conquistar o palato.

Foto: Travel&Taste
O conselho com simpatia de quem nos servia ia para o prato de bacalhau ou para um dos vários bifes à disposição que, garantiram-nos, são a grande especialidade da casa. Optámos pelo Bife Pimenta, mas indecisos entre este e o de Mostarda. Enquanto esperávamos e acamávamos o que já tinha desaparecido da mesa, aproveitámos para esclarecer o que leva o Bife Terra e Mar. A carne, temperada com sal e pimenta, faz-se acompanhar de gambas, cloral, alho, louro e vinagre – não nos pareceu mal, mas o bife pimenta ganhou o duelo.
Depois de aberta uma garrafa do Kopke Reserva Tinto 2010 – um vinho muito interessante e que se viria a declarar grande amigo do prato principal -, eis que somos surpreendidos com um carrinho com um fogão. Embora cada vez menos utilizados na restauração, estes carrinhos permitem a confeção dos pratos junto do cliente, apelando à vertente de espetáculo que é inerente à cozinha. Não achámos piroso, gostámos de ver a preparação e de conversar com quem o fazia.
O bife alto, decorado com pimenta, chegou acompanhado de legumes, castanhas e batatas fritas caseiras em rodelas. Esquecemo-nos dos acompanhamentos porque o bife chegou e conquistou. Não foi, claro, o melhor que já comemos, mas uma surpresa muito boa para aquilo que esperávamos.
Já com mais olhos do que barriga, lançámo-nos à sobremesa: pão-de-ló de ovar com doce de figo e queijo da serra. Como já dissemos, esta segunda metade do jantar conquistou-nos completamente. O equilíbrio entre o doce e o salgado foi muito bem conseguido na companhia, claro, de um Porto Twany da Ramos Pinto.
Holiday Inn Porto Gaia | Morada: Rua Diogo Macedo 220, Vila Nova de Gaia | + info