​O edifício alto e imponente que hoje definha em frente ao lago do Parque D. Carlos I, nas Caldas da Rainha, foi projetado em finais do século XIX para ali criar um grande complexo termal que tirasse partido de uma das valências da cidade. Depois de anos utilizado para quase tudo menos para o planeado, os pavilhões já têm novo rumo confirmado: vão transformar-se num hotel de cinco estrelas.

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A concessão ficará a cargo do Grupo Visabeira que, através da Montebelo – empresa dedicada à gestão hoteleira -, vai recuperar o projeto desenhado por Rodrigo Maria Berquó e dar nova vida ao parque da cidade. O objetivo é fazer deste um hotel com veia artística, ligando-o à tradição das Caldas na cerâmica e, claro, ao Museu Bordallo Pinheiro, também detido pelo grupo empresarial.

A nova unidade hoteleira de luxo terá cerca de 100 quartos, uma decoração marcada pela cerâmica e uma vista única sobre o Parque D. Carlos I e o seu lago, que fica mesmo em frente ao edifício. O grupo pretende também que este hotel seja um local de experiências artísticas, com oficinas e outros eventos semelhantes.

A requalificação do espaço vai implicar um investimento de 15 milhões de euros, cujo arranque está agendado para meados de 2018 e conclusão prevista para finais de 2020.

Um sonho perdido no tempo

Desocupado há mais de uma década, o complexo de pavilhões desenhado por Berquó no século XIX fazia parte de um plano estratégico para colocar as Caldas da Rainha no mapa internacional. Para lá chegar contava com a experiência já adquirida à frente do projeto das Caldas da Felgueira, em Viseu, a que se juntava o convite para a direção do Hospital Real.

Inicialmente, foi pedido ao arquiteto e engenheiro que revitalizasse o espaço hoje conhecido como Parque D. Carlos I, antigamente denominado Passeio da Copa, mas, entusiasmado, criou planos mais ambiciosos: construir um complexo de recreio que apoiasse os serviços termais, de forma a atrair mais visitantes e a competir com o que de melhor se fazia lá fora.

Já depois de ter passado, durante dois anos, pela cadeira de Presidente da Câmara, Berquó conseguiu inaugurar, em 1892, o parque. Um ano mais tarde, começariam as obras de construção dos pavilhões em pedra que seriam, perto da conclusão, em 1896, interrompidas pela morte repentina do arquiteto. Rodrigo morreria a 17 de março vítima de um ataque cardíaco.

O orçamento e o prazo já tinham sido ultrapassados, factos que se juntaram à falta de apoio do Estado na conclusão do projeto. Tanto o sétimo pavilhão como o Observatório Meteorológico não chegaram a ser concluídos e o restante complexo nunca chegou a ter as funções originalmente previstas: termais. Por ali passou uma escola, um Regimento de Infantaria, um Posto de Turismo e outros serviços até ao último inquilino, a Escola Técnica Empresarial do Oeste, que ali ficou até 2005. As portas nunca mais voltaram a abrir.